Se você viu um idoso sem camisa envolto na bandeira americana, um alien tomando cerveja e uma mulher pilotando uma máquina de limpar gelo durante a final da NBA, não estava alucinando. Era só um comercial. Mas não qualquer comercial.
Era o primeiro feito 100% por inteligência artificial a ir ao ar em um evento esportivo de grande audiência nos EUA.
E não foi pouco: o caos visual foi bancado pela Kalshi, plataforma de apostas, e produzido por prompt com o Veo 3 — a ferramenta de vídeo da Google que mal saiu do forno e já está invadindo o sofá dos telespectadores mundo afora.
O criador (ou seria prompter?) PJ Ace foi direto: “me contrataram pra fazer o comercial mais insano possível”. Missão cumprida.
A peça é uma colagem frenética de imagens surreais e sem conexão lógica. Tudo com aquele jeitinho torto que a IA ainda não conseguiu polir. E talvez nem deva.
A comunidade tech chama isso de “slop” — conteúdo gerado por IA, geralmente barato, sem alma, mas feito pra impactar. Tipo um McLanche de estímulo visual.
Só que agora, o slop deixou o feed e foi parar no intervalo da NBA.
Comercial tradicional: 💸 centenas de milhares de dólares + semanas de produção
Comercial com IA: 💸 2 mil dólares + 2 dias
Qualidade? Isso a gente discute depois.
Foi IA fazendo IA para fazer TV: Gemini e ChatGPT criaram o roteiro e os prompts, que alimentaram o Veo 3, que gerou mais de 300 vídeos. Só 15 se salvaram.
Cada cena dura no máximo 8 segundos, porque o Veo ainda tropeça feio na continuidade. Mas no ritmo TikTok, isso nem é um problema — é o estilo.
A Kalshi nem queria usar IA no começo. Mas depois que chegaram os orçamentos das produtoras tradicionais, mudaram rapidinho de ideia.
Esse case pode ser só o começo. Segundo o diretor, vídeos “high-dopamine” feitos por equipes mínimas vão dominar a publicidade em 2025. A Meta já corre atrás: pretende automatizar anúncios até 2026.
No Brasil, temos o case da Prefeitura de Ulianópolis (PA), que com o mesmo Veo 3, criou um comercial super realista para promover uma festa junina.
O comercial da Kalshi não é uma obra-prima. Mas é um marco.
Ele mostra que a publicidade, antes sinônimo de grandes equipes, orçamentos robustos e processos lentos, agora pode ser feita em dois dias com uma boa ideia, alguns prompts e um modelo de IA.
Isso não significa o fim da criatividade humana — mas impõe uma nova lógica: agilidade, volume e custo baixo como critérios centrais.
As produtoras vão ter que repensar seus modelos. Os profissionais criativos, entender como colaborar com algoritmos. E o público, aprender a identificar (e criticar) o que consome.
Porque se até a final da NBA virou palco para experimentos de IA, dá pra dizer que o futuro da propaganda não está chegando. Ele já entrou no intervalo comercial.
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